domingo, 3 de janeiro de 2010

Crianças e Adultos

Na infância, não me perguntaram o que eu queria ser quando crescesse. Hoje, se me perguntassem, eu responderia que gostaria de ser criança novamente. Ser criança e poder viver em liberdade – liberdade de pensamentos, acima de tudo. Porque hoje, afinal, eu não penso livremente. Penso o que me impõem; penso o resultado e não me preocupo em saber o desenrolar da fórmula. Penso o que meu rótulo me permite pensar... E isso não é uma constatação. É uma verdade de ciência global e de esquecimento global, também. Triste fim ao ser humano, que, desde cedo, almeja a maioridade; sem saber, assim, que está desejando a morte da própria essência.

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E o convite de Deus, penso eu, é esse mesmo: Que sejamos crianças nas mãos dEle! Ora, pois Ele não precisa de sacrifícios adultos, apenas obediência. Ele não nos requer um comportamento sobre-humano, experiente; só quer que, em nossa humanidade, sejamos dependentes. E, que acima de tudo, entendamos que o propósito da nossa vida é muito simples: o amor.

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Infância
Carlos Drummond de Andrade

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu...Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro...que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

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