domingo, 9 de abril de 2017

Carlos


Eu sempre quis ser fascinante,
desfilar pelo mundo com atenção,
ser percebido.

Aos 12, era poeta.
Aos 18, me senti enfadonho.
Aos 25, assumo novamente
o peso de ser escritor.

Eu minto na idade.
Eu sinto a sua falta.
Eu queria ser fascinante,
mas não compreendo
essa tal palavra fascínio.

Mas

A vida é essa, Carlos:
hoje é domingo
amanhã ninguém sabe o que será
depois de amanhã não se mate.

Sosseguemos.


terça-feira, 25 de outubro de 2016

Três

1

Os olhos perseguem a condição humana, principalmente a condição do escritor. Os olhos, aquelas esferas displicentes, óbvias, sôfregas, imbecis até; os olhos nos fazem imbecis e é assim. Eu posso dizer: sempre tive certa coragem quando o assunto era o olhar. Nunca me rendi à bobeira máster de negar o seu convite, mas, pelo contrário, me entreguei todas as vezes, aceitei, mergulhei, encarei, atingi e tantos outros verbos. Ah, tantos outros.

2

Eu queria ter aqueles olhos, pegar neles, como se dissesse “é como um combustível para meu tanque vão”; olhos de quem que finge, é certo, mas quem é que não finge? Olhos professorais, certeiros, enganadores, desafiadores. Mas também que querem ou queriam, com a força de um orgasmo, aprender sobre quase tudo, numa humildade e numa entrega do tamanho da força do perdão. No fraquejar dos corpos, quando e onde nada com nada é/foi dito, contudo muita de alma se pereniza no ar, quem era eu perante aqueles olhos?  Como se eu não tivesse os meus próprios? Como eu capturava aquelas duas bolas, tão de brilho, tão outras? Eu tinha os meus próprios olhos? Como se dava essa captação? Essa constatação?

3


Em ver ou escrever, tanto faz, os olhos mandam.  Ah! Ver ou escrever; somos todos incapazes de compreender a relação entre o que os olhos viram e o que o poeta (ou escritor) decidiu escrever.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O betinense e o chão

Por algum tempo vivi em Betim. Mas ao contrário de Drummond, que “principalmente nasceu em Itabira”, eu não nasci aqui. Betim me pegou de surpresa. Acontece que meus pais, betinenses, em 1992 não tinham condições de pagar hospital - a essa altura, o hospital público Nossa Senhora do Carmo já havia se tornado o Hospital da Unimed que conhecemos, único de Betim naquela época. Desta forma, de papel passado não sou betinense: sou esmeraldense. Em Esmeraldas, aliás, nunca pisei: saí de lá um dia depois de meu nascimento nos braços de minha mãe e nunca mais voltei. Pisei mesmo foi em Betim! Sou betinense de chão, como muitos outros. Com um ano, minha mãe diz, já andava os cômodos de minha casa. E conforme eu ia crescendo, minhas fronteiras aumentavam. Aos poucos, já pisava no asfalto da Rua São Salvador e, acompanhado, ia para o Jardim de Infância. E depois já atravessava a Avenida Amazonas sozinho para ir à escola. E ao centro da cidade. E ao cinema. E ao meu primeiro emprego. E aos poucos, pés no chão, Betim me entregava a novos lugares, porque a vida de adulto exigia um rompimento: Contagem, Belo Horizonte, Brumadinho. Estudos, estágios, novos olhares. Sim, Betim me entregou a muitos lugares. E muitas vezes saía eu daqui e rumava para um dia inteiro longe. Hoje, depois de muito tempo, tenho a impressão que ao sair de casa,  quando subo a Governador Valadares rumo à BR para pegar o ônibus e ir trabalhar, Betim faz um contrato silencioso comigo, como se dissesse baixinho “vá, mas volte a pisar aqui ainda hoje”. E eu sempre volto. Se há algo que constitua o ser betinense, aliás, talvez não seja morar em Citrolândia ou Marimbá. Tampouco conhecer a Várzea das Flores, a Casa da Cultura, a pista de caminhada ou o viaduto do PTB. E talvez nem seja ser antigo na cidade ao tal ponto de ter conhecido a antiga barreira, a antiga Makar, o antigo cinema, ou até mesmo, quem sabe, conhecido a própria Josefina Bento. Ser betinense – e disso estou buscando alguma certeza – é, sim, ter que ir longe daqui, mas saber que Betim sempre guarda em sua memória um bom motivo para voltar. Nos rosto do betinense, aqui e ali, sempre percebo uma certa pressa, um certo sentimento, uma certa memória escondida de quem carrega dentro de si uma lagoa, um rio, complexas estradas, poeira, paixão, uma igreja: uma cidade pulsa, lá no fundo, na alma do betinense, não o deixando esquecer onde seus pés encontram o seu verdadeiro chão.

sábado, 17 de maio de 2014

A segunda canção de retorno

Quando eu retornar, não sei se certamente estarei lúcido, pasmo, corado; não sei se sentirei frio, porque geralmente não sinto frio. É provável que eu não esteja com frio. Quando eu retornar, esperem de mim a escolha mais sutil de toda a humanidade. Eu vou escolher detalhadamente, com todas as minhas franquezas, pois escolher é um ato de maturidade. Para todos os males, haverá calma; quem diria? Para o amor.. permaneceremos no amor, ora! De uns tempos para cá me dediquei, mas não com muito força, a entender minha decisão de retornar. Sim, sim, de verdade. Sem muitas conclusões, mas com algumas perguntas. Exemplo. Retornar para quê, para onde? Primeiro: retornar porque deu hora, é tempo.  Segundo: para mim mesmo. "Olhai os lírios dos campos", "mirem, vejam". Não estou certo, mas provavelmente retornarei em meados de algum agosto ou algum setembro -  nessas épocas se ouve melhor as coisas, prestamos mais atenção e os dias geralmente são amarelados: pura poesia, ou algo do tipo. Estarei feliz (ou empolgado, ou alegre). É mesmo, estarei, sim! Quando eu retornar, não "batam latas", mas apenas acenem com o olhar. Espero que haja poliglotas, academicistas e intelectuais-ocidentais em geral: para esses, haverá exibição de mim mesmo... e será uma chacota geral! Quanto aos outros, muito bem, serão bem vindos ao espetáculo - que nem espetáculo é - e no íntimo saberão que retorno e escolha são coisas seríssimas. Quando eu voltar, espero que todos estejam muito bem. Eu retornarei e o céu saberá. E sendo ele indiscutível, tudo será para ontem e para sempre. 

domingo, 22 de setembro de 2013

A grande panela: guardávamos tudo nela, com perspectivas de um dia de cozimento.  Essa panela era do mundo. E, sim, houve épocas em que a vontade de que daquela panela saísse algo de saboroso, de proveitoso, foi maior que a vontade de cozinhar. Ficávamos nos preparativos.  A panela era rude, forte, não trincava nem nada.

Eu mesmo (quem diria!) depositei nela alguns poemas, alguns escritos, algumas visões de futuro – bobagem. Alguns depositaram sentimentos muito profundos, uns inclusive que não eram conhecidos. Os escritores mais tradicionais fizeram questão de depositar toda a modéstia recolhida em anos e anos de dedicação aos livros publicados, mas, de certa maneira, emitiam o mesmo frenesi que os escritores chamados de “mentes mais abertas”. O que é até justificável porque, se você ver bem, escritor é a mesma coisa sempre.

Certa vez, não coube mais nada na panela. Sim, aquela paradoxal panela não suportava mais nenhum conteúdo. O que fazer? Esta panela era o mundo. Como fazer? Fiquei me perguntando como eu agiria dali para frente mediante àquele marco histórico. Sim, afora qualquer discussão filosófica ou intelectualista acerca das coisas, eu considerava aquele momento um fato histórico. Pois bem, perguntei-me, perguntei-me e não obtive resposta – e isso me deixou profundamente confuso, para não dizer encabulado. As outras pessoas eu não sei se fizeram esse questionamento, se entraram nesse parafuso. 

Aliás, as outras pessoas foram questionando tanto, se envolvendo tanto com o problema da panela... e se esqueceram. Esqueceram-se da panela! Daquele objeto de culto, daquele dispositivo racionalista, religioso, puro, emblemático. Haviam se esquecido!

Sinceramente, vim aqui registrar esse caso da panela, pouquíssimo certo se também me esqueci. Ou ainda, por que eu me lembraria? É um caso sério, com certeza. E que coisa estranha é a memória, concluo, que me embaraça e me consome, tal como panela. E que coisa estranha é o tempo, que conclui, feito tampa.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Uma canção de retorno

A você
que faz sentido
e que faz tempo
escrevo estas poucas linhas
com algum medo
e algum temor
de nunca (talvez) serem lidas.

A você 
que já faz um certo tempo
que trouxe algum sentido
que se embriagou de
saudade:
- bebei deste cálice.

A você
escrevo estas poucas linhas
sem esperança
sem qualquer coisa que te refute
escrevo soltas estas linhas
a esperança,
a sua esperança
à minha espera.


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O último átimo de um poeta


Cheguei em casa e fui direito a Minguinho.
— Xururuca, vim fazer uma coisa.
— O que é?
— Vamos esperar um pouco?
— Vamos.
Sentei e encostei minha cabeça no seu tronquinho.
— Que é que nós vamos esperar, Zezé?
— Que passe uma nuvem bem bonita no céu.
— Pra quê?
— Vou soltar o meu passarinho.
— Vou, sim. Não preciso mais dele...
Ficamos olhando o céu.
— É aquela, Minguinho?
A nuvem vinha andando devagar, bem grande, como se fosse uma folha branca toda recortada.
— É aquela, Minguinho.
Levantei emocionado e abri a camisa. Senti que ele ia saindo do meu peito
magro.
— Voa, meu passarinho. Bem alto. Vá subindo e pouse no dedo de Deus.
Deus vai levar você para outro menininho e você vai cantar bonito como sempre cantou para mim. Adeus, meu passarinho lindo!
Senti um vazio por dentro que não acabava mais.
— Olhe, Zezé. Ele pousou no dedo da nuvem.
— Eu vi.
Encostei minha cabeça no coração de Minguinho e fiquei olhando a nuvem ir-se embora.
— Eu nunca fui malvado com ele...
Aí virei o meu rosto contra o seu galho.
— Xururuca.
— Que foi?
— Fica feio se eu chorar?
— Nunca é feio chorar, bobo. Por quê?
— Não sei, ainda não me acostumei. Parece que aqui dentro a minha gaiola ficou vazia demais...

VASCONCELOS, José Mauro de. Meu pé de Laranja Lima. p. 42


Observar. A caneta (tão falsa); o chinelo; o ventilador. Refletir. O lençol; a mochila; a janela. Lembrar-se. Outro dia, pouco distante, estava mesmo pensando nestas coisas de vida de escritor, local onde pode-se encontrar subsídios sem fim para a construção do texto; tudo é motivo para o texto. Lembro-me em especial que há algum tempo atrás (era um dia no ônibus) observava um homem sob a música contínua do vai-e-vem urbano, sob um vai-tempo infinito, e percebia como ele pensava com obstinação à respeito da escrita e em sua necessidade.
Conversei com ele. Na verdade, já estava exausto das perguntas que ele levantava – há tempos – sobre esse assunto, sendo que nesse dia específico pensava mais no mistério da vida. O ônibus andava. “A janela dizia alguma coisa?”, pensou. Não dizia. E por que diria? Estava exausto (sim, exausto) de sua necessidade constante de poesia nas coisas, ou de coisas na poesia. E do enfastio, a promessa: jamais escreveria sobre esse mistério. Observem que essa decisão, neste átimo no ônibus, era de uma convicção e, ao mesmo tempo, de uma negação incrível. Incrível mesmo. Até há algum tempo atrás, por exemplo, ele pairava sobre as coisas e as poetizava; poesia era texto, visualmente texto; visivelmente texto. Mas, não! Agora, não. Optava calmamente por passar a ser apenas um observador de janelas de ônibus, e ônibus são muitos – veja. Um observador sem o compromisso visceral de interpretar e mediar as coisas e codificar a sua interpretação. Livrara-se deste cargo, dessa ocupação, deste estado de espírito. Atento-me, pois percebi que naquele dia ele vomitava à janela do ônibus todas as crônicas não escritas, os poemas fatídicos, as narrativas e os contos que já nasciam aposentados. Era bonito ver este processo de libertação, mas eu temia.
Observar. A caneta tornar-se-ia, afinal, apenas um dispositivo de registro. O chinelo seria calçado. E o ventilador ventou macio. Ah... Nunca me esquecerei deste momento de libertação e de (re)criação. Uma semana passaria; um mês passaria; passariam séculos... e lá estaria ele, firme, de ferro, alheio à poesia, mas atento às coisas, usufruindo delas e amando-as com (talvez!) mais discernimento.
E é assim que sempre quando eu estou no ônibus, penso em suas últimas palavras, como querendo que sua imagem não suma de minha cabeça. Sua imagem me faz crer no amanhã de esperança, tão pueril, mas tangível, que jamais quero escrever. Ao pensá-lo, estremeço e temo. Sei que aquele rude homem jamais voltará à minha vista, mas sinto o seu recado, íntimo, incomodando-me, como falando ao meu ouvido “Liberte-se também”. Eu lamento a minha indiferença; quiçá lamentaria a minha falta de coragem. No entanto, é certo o meu pacto de sempre repetir as últimas palavras daquele homem, sob a janela do ônibus. Com vergonha (pois é pueril, eu disse) repito aqui, neste texto metalingüístico:
- Vida boa pela janela. Vida boa.
E as janelas nunca mais foram as mesmas em minha vida. E em meus textos. E em tudo.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Suave e estranho pedido


Estou muito perto da loucura, creio. No momento não me sinto à vontade para falar isso para ninguém, nem para você. Mesmo assim estou compartilhando este monte de merda que é o meu pensamento. Penso a todo o momento. Sou alguém sem filtro. Tudo o que quase ninguém percebe, eu percebo, pois é a droga de minha construção que me tornou esse sujeito arrogante, prepotente, burro, talvez, “austero” e um acúmulo de tudo aquilo que não presta para perceber.

Para quê me preocupar com os sentimentos por outros? E com sentimentos de outros? Quero me apagar – posso ser um erro de gramática nesse texto escrito... (por seu Deus? não sei; pela história, eu acho). Fica difícil respirar nesse mundo poluído.

Peço que não me responda esse texto – qualquer resposta que me derem no momento acharei idiota, insuficiente. Apague-o logo depois de lê-lo. Esqueça isso, para sempre.”

B.S.T

domingo, 25 de novembro de 2012

A minha vó preta


 - Jeová, seu nome é... Já! – sempre dizia a minha avó. Na época que ela repetia fervorosamente (e alegremente) este trecho do Salmo 68, davídico, eu não sabia que Já (ou Jah, ou Jáh) era uma forma contraída Yahweh (o Jeová aportuguesado), que é o nome de Deus; SENHOR, o “Eu Sou”, Deus do povo judeu. Para mim, Já era já mesmo, com letra minúscula, de agora, de right now, de já! E foi nessa consciência infantil que por muitas vezes repetia, animadamente, o mantra de minha avó: Jeová... seu nome é já!

Hoje sei, um pouco pela saudade e um pouco pelo meu amaduecimento,  que a história de minha avó permitia os dois sentidos fonéticos de já. O primeiro, relacionado à religião, era evidente. Pentecostal rigorosa, tinha os joelhos calejados de ajoelhar-se para orar. Pilar de fé para todos os que conviviam com ela, saíra uma vez de Itatiauçu, onde morava, até Betim (numa época que não existia telefone), para amparar minha mãe que estava no Hospital por conta de uma mastite. Como ficou sabendo? O próprio Deus (o Jeová) disse a ela de manhã, quando orava: “Vá para a casa de sua filha... a casada... de Betim” – algo assim. Coisa de fé. Enganam-se aqueles que pensam que a vida de um religioso, um protestante, é sem propósito. Minha avó me provou de sua vida e do propósito dela, abalizado pela fé fervorosa, mas pela consciência clarividente de suas atitudes; senhora de si, que vivia sem nenhum (ou pouco) auxílio financeiro de seus filhos e que com apenas com a sua pensão mudava-se de casa a hora que lhe desse na telha.

Não a enxergo como fanática e tampouco  trago esta lembrança comigo. Mas, sim, das vezes que aparecia aqui em casa e dormia no meu quarto, e tocava violão e cantava músicas do seu hinário vermelho. Lembro-me da música sobre a história de Balaão e sua jumenta, em que havia uma parte onde que jumenta falava; nesta parte minha avó fazia questão de interpretar – e eu adorava! Também cantava músicas sobre mares e sobre o poder de Jesus em lidar bem com estes: ora andava sobre estes, ora acalmava-os. Um dia, para a minha surpresa, arriscou até uma de Roberto Carlos.

Eu sempre a acompanhava em suas peregrinações para ir à igreja, pois só admitia freqüentar a sua igreja, a Igreja Pentecostal Deus é Amor.  Uma vez, inclusive, estando de férias em sua casa em Igarapé, me fez andar um longo trajeto para ir ao culto. Como eu negaria? Estando com ela, eu era capaz, de fato, de caminhar uma légua a mais.

O outro sentido de já, o temporal, também perpassa as memórias que tenho de minha avó. Ela era a mulher do agora, do ímpeto, do já. Tanto é que chegou a abandonar a própria casa, onde morava sozinha com o filho adulto e problemático, para não ter que vê-lo enfurnado em seus maus caminhos. Minha avó era a mulher do agora, de opinião forte, não vacilava e não tutibeava. Talvez por ser mineira, ou talvez por ser crente, era a mulher do sim-sim  ou não-não: não havia outra opção. Era a mulher do já; não se importava em tomar remédios, mesmo consciente de seu coração frágil, pois acreditava no propósito divino. E ainda assim trazia um carinho misterioso, aconchegante; algo nos olhos  que brilhavam ou no cheiro agradável; algo que nunca pude bem definir: coisa de minha avó.  Sendo mulher do agora,  também nos deixou rápido, aos 63 anos, de surpresa. Era dezembro, mas não chovia. Quem me deu a notícia foi meu irmão:  “Wendell, a avó morreu!”.  “O quê?”, eu respondi, não com dramaticidade, mas com uma surpresa sincera.  Era difícil compreender que aquela mulher não era mais do agora. No velório – vejam só! – sorria... Premeditara, um dia antes, com tranqüilidade este fatídico acontecimento – isso fui saber depois -, quando comentou com a enfermeira: “Jesus está me chamando...”. Estaria ao lado de Jáh, afinal.

É claro que eu gostaria que ela estivesse conosco até hoje. Seria feliz ao ver seus bisnetos. Veria-me formar. Veria os meus irmãos se formarem. Veria a sua filha formar. De outras coisas, igualmente, penso que foi muito bem poupada. Aparecida Benta dos Reis. Digna deste nome! Na memória fica a minha lembrança doce e infantil de sua presença indescritível, de sua fé, de seu carinho e de plenitude. Na minha memória não será sempre eterna, mas sempre atual, a mulher do agora, que a qualquer momento aponta no meu portão, sobe a rampa e vem rindo para me abençoar. A minha avó... a minha vó preta!


Melhor que amá-la é poder ter lhe conhecido.



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A Língua do P

Quem me ensinou
a língua do P?
Pê-mi pê-nha pê-mãe!

Mas a língua do P
não  é simples fazer
e é difícil dizer:
Pêum pêdois pêtrês -
conta e começa aprender.

A língua do P
é código do adulto
(com outro adulto)
 para dizer, sem dizer,
o que não podem dizer:
com a criança na frente
o filho, o sobrinho, etecétera,
o assunto é segredo
para ninguém se intrometer!
- Pêcui pêda pêdo
  pêque pêe pê le
  pêper pêce pêbe

Fenômeno incompreendido no Campo da Comunicação,
não sei se a Língua do P
está catalogada
no livro de todas línguas,
mas é caso de análise para a
linguística, a semântica, a fonética
e a semiótica.





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