1
Os olhos perseguem a condição humana, principalmente a
condição do escritor. Os olhos, aquelas esferas displicentes, óbvias, sôfregas,
imbecis até; os olhos nos fazem imbecis e é assim. Eu posso dizer: sempre tive
certa coragem quando o assunto era o olhar. Nunca me rendi à bobeira máster de
negar o seu convite, mas, pelo contrário, me entreguei todas as vezes, aceitei,
mergulhei, encarei, atingi e tantos outros verbos. Ah, tantos outros.
2
Eu queria ter aqueles olhos, pegar neles, como se dissesse “é
como um combustível para meu tanque vão”; olhos de quem que finge, é certo, mas
quem é que não finge? Olhos professorais, certeiros, enganadores, desafiadores.
Mas também que querem ou queriam, com a força de um orgasmo, aprender sobre
quase tudo, numa humildade e numa entrega do tamanho da força do perdão. No
fraquejar dos corpos, quando e onde nada com nada é/foi dito, contudo muita de
alma se pereniza no ar, quem era eu perante aqueles olhos? Como se eu não tivesse os meus próprios? Como
eu capturava aquelas duas bolas, tão de brilho, tão outras? Eu tinha os meus
próprios olhos? Como se dava essa captação? Essa constatação?
3
Em ver ou escrever, tanto faz, os olhos mandam. Ah! Ver ou escrever; somos todos incapazes de
compreender a relação entre o que os olhos viram e o que o poeta (ou escritor)
decidiu escrever.