Por
algum tempo vivi em Betim. Mas ao contrário de Drummond, que “principalmente
nasceu em Itabira”, eu não nasci aqui. Betim me pegou de surpresa. Acontece que
meus pais, betinenses, em 1992 não tinham condições de pagar hospital - a essa
altura, o hospital público Nossa Senhora do Carmo já havia se tornado o
Hospital da Unimed que conhecemos, único de Betim naquela época. Desta forma,
de papel passado não sou betinense: sou esmeraldense. Em Esmeraldas, aliás,
nunca pisei: saí de lá um dia depois de meu nascimento nos braços de minha mãe
e nunca mais voltei. Pisei mesmo foi em Betim! Sou betinense de chão, como
muitos outros. Com um ano, minha mãe diz, já andava os cômodos de minha casa. E
conforme eu ia crescendo, minhas fronteiras aumentavam. Aos poucos, já pisava
no asfalto da Rua São Salvador e, acompanhado, ia para o Jardim de Infância. E
depois já atravessava a Avenida Amazonas sozinho para ir à escola. E ao centro
da cidade. E ao cinema. E ao meu primeiro emprego. E aos poucos, pés no chão,
Betim me entregava a novos lugares, porque a vida de adulto exigia um
rompimento: Contagem, Belo Horizonte, Brumadinho. Estudos, estágios, novos
olhares. Sim, Betim me entregou a muitos lugares. E muitas vezes saía eu daqui
e rumava para um dia inteiro longe. Hoje, depois de muito tempo, tenho a impressão que ao
sair de casa, quando subo a Governador
Valadares rumo à BR para pegar o ônibus e ir trabalhar, Betim faz um contrato silencioso comigo, como
se dissesse baixinho “vá, mas volte a pisar aqui ainda hoje”. E eu sempre
volto. Se há algo que constitua o ser betinense, aliás, talvez não seja morar
em Citrolândia ou Marimbá. Tampouco conhecer a Várzea das Flores, a Casa da
Cultura, a pista de caminhada ou o viaduto do PTB. E talvez nem seja ser antigo
na cidade ao tal ponto de ter conhecido a antiga barreira, a antiga Makar, o
antigo cinema, ou até mesmo, quem sabe, conhecido a própria Josefina Bento. Ser
betinense – e disso estou buscando alguma certeza – é, sim, ter que ir longe
daqui, mas saber que Betim sempre guarda em sua memória um bom motivo para
voltar. Nos rosto do betinense, aqui e ali, sempre percebo uma certa pressa, um
certo sentimento, uma certa memória escondida de quem carrega dentro de si uma
lagoa, um rio, complexas estradas, poeira, paixão, uma igreja: uma cidade
pulsa, lá no fundo, na alma do betinense, não o deixando esquecer onde seus pés
encontram o seu verdadeiro chão.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
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