domingo, 22 de maio de 2011

Maio

Bateu na porta de maio algum peso diferente e eu me sinto obrigado a escrever sobre isso. Um peso desconhecido. Maio, para mim, tem sempre dessas coisas incertas, desses mares desconhecidos, desses sentimentos circulares.

Em maio as ofensas são maiores. Há um número maior de ofendidos e ofensores. A matéria da qual é feita esse estranho mês é tensa, cruel, poética e arrebatadora. A matéria que se desdobra na minha vida, desnudando todos os meus conceitos, preconceitos e coisas sobre o futuro.

Maio traz a idade para mim, o valor do tempo. E com a reflexão sobre o tempo é possível se pensar em tudo. É possível clamar baixo e aceitar na feitura e nas curas do tempo. É possível desamar a dor.

Com olhos cheios de lágrimas, percebo que maio me permite saber não só sobre sua matéria – sobre a minha também.

A matéria eterna – para que me lembrei? Mas maio lança sobre mim esses questionamentos sem se preocupar com o resto. Porque esse mês, sadio, orgulhoso, pensa ser por si só. Ignora o resto. Ignora ser só um e único.

Faço questão, em maio, de olhar o menino no espelho e amá-lo como se deve. Faço questão de me lembrar que ele não deve ser maltratado, como faço em outros meses. Faço questão de reconhecer a sua importância, tão singela. Tento convencê-lo sobre a felicidade, mas ele não quer; culpa maio, culpa tudo. Esse menino insensato, esse menino que sou eu mesmo.

Maio é uma incógnita para mim e sei que nunca, jamais, conseguiria transformá-lo, com perfeição, em palavras. E, assim, eu meu calo.

Porque no fundo, no fundo, maio é pseudônimo. É alterego. De mim mesmo. Sobre mim. Sou eu.

Minha alma se exaspera por saber disso. E sigo o caminho, esse caminho grande, puro chão e céu, prometendo-me nunca mais escrever dessas coisas. Porque a vida tem pouca paciência para palavras assim, sem mais nem menos. E eu também – mesmo completando, em maio, a maturidade mais estranha do mundo.

E na realidade, no fundo, no fundo, o que eu quero é viver mesmo. Em maio e sempre.

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