Procura-se
um escritor que passeou por estas bandas – dizem. Algum do tipo comum; sendo
meio alto e meio baixo, com poucas preocupações e, embora com a aparência
sisuda, despertava curiosidade de quem o via e, sobretudo, àqueles que
conversavam com ele. Este escritor, pelo que pude observar através (não
utilizava esta palavra “através”) do meu pouco contato, trazia observações
modernas, pensamentos modernos, sobre a vida humana. Divagava em alguns textos
muitíssimo curiosos sobre as diversas formas que as relações humanas haviam
adquirido, colocando-as em algumas equações novas, modernas – daí a origem do “observações
modernas, pensamentos modernos”.
É
verdade que todos os escritores de nossa
época traçam este mesmo caminho e escrevem, em umas ou outras linhas, sobre o
pensamento errado que os indivíduos ora constroem, oram destroem. A isto dou o
nome de vício. A propósito, este escritor a quem procuro certamente
compartilharia esta ideia do vício, pois em seus textos via-se fortemente uma metacrítica àqueles escritores que
falavam, morosamente, sobre o pensamento humano de forma negativa, sem nenhuma
proposição de mudança. Ora, é verdade que não cabe ao escritor apontar soluções
para os males que descreve. E é por isso que o escritor, em nossos tempos, ao
contrário dos médicos, advogados, engenheiros, etc., perdeu o seu valor e
procura (parece fazê-lo) advertir às pessoas de um mal maior, terrível, mas
desconhecido. Os males que as pessoas conhecem, é claro, são as doenças, as guerras,
a violência – e estes tantos outros que todos sabem. Para cada um existe um
profissional específico para propor as soluções devidas. E o escritor, coitado,
insiste em anunciar o seu mal desconhecido e, vejam só, sem solução.
No
entanto, procuro um escritor que soube ludibriar a todos – até mesmos os
próprios escritores – e falou de coisas pesadas e verossímeis, que diziam
respeito à ordem e à orgia humana; não tratava de um mal estar desconhecido,
inverídico, tosco, mas, pelo contrário, tocou a real ferida de todos nós e nos
fez gemer de dor. E todos nós estávamos certos de que o que havia sido tratado
ali, por aquele escritor, era a inquestionável vida de todos nós. Foram tempos
difíceis, mas de profunda reflexão. Tempos produtivos, todavia marcados por desconstruções
de sólidas estruturas que mantínhamos por inúmeras gerações. Havia novas músicas e todos os meus
contemporâneos demonstravam novos semblantes, como se tudo, estranho, fosse começar
outra vez, mas de uma maneira muito bruta. Sempre nos lembraremos deste período
– pelo menos posso falar de mim.
Eis
que um dia este escritor sumiu. Procuro-o. Este que nos fez refletir sobre a
função das palavras e nos abriu os olhos novamente. Procuro este escritor que
alcançou a síntese de todas as considerações que eu um dia tentei fazer. Afinal,
também quero ser escritor. Como ele. Procuro-o, pois quero aprender este dom,
esta magia, este ofício de tradução do sentimento humano – cá estou eu, é
certo, cometendo o mesmo erro que identifiquei nos escritores. Deslumbro-me.
Quero encontrar este escritor para que ele me ensine! E que com ele eu aprenda!
Ao uníssono silencioso da alma, ao azul,
ao avante, ao declínio, ao escuro – quero que me ensine.
E
eu sei que há algo de belo e atual nestas minhas palavras (eu sei, eu sei), é certo, mas, sim,
procuro um escritor que me corrija, que me freie e que me mostre o caminho
certo das palavras. Quero compreender o mundo, como já fizeram um dia.
Wendell
Parabéns, sor.
ResponderExcluirProcuro um escritor! Whtsapp 61 986443757
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