domingo, 18 de novembro de 2012

Procuro um escritor


Procura-se um escritor que passeou por estas bandas – dizem. Algum do tipo comum; sendo meio alto e meio baixo, com poucas preocupações e, embora com a aparência sisuda, despertava curiosidade de quem o via e, sobretudo, àqueles que conversavam com ele. Este escritor, pelo que pude observar através (não utilizava esta palavra “através”) do meu pouco contato, trazia observações modernas, pensamentos modernos, sobre a vida humana. Divagava em alguns textos muitíssimo curiosos sobre as diversas formas que as relações humanas haviam adquirido, colocando-as em algumas equações novas, modernas – daí a origem do “observações modernas, pensamentos modernos”.

É verdade que  todos os escritores de nossa época traçam este mesmo caminho e escrevem, em umas ou outras linhas, sobre o pensamento errado que os indivíduos ora constroem, oram destroem. A isto dou o nome de vício. A propósito, este escritor a quem procuro certamente compartilharia esta ideia do vício, pois em seus textos via-se fortemente uma metacrítica àqueles escritores que falavam, morosamente, sobre o pensamento humano de forma negativa, sem nenhuma proposição de mudança. Ora, é verdade que não cabe ao escritor apontar soluções para os males que descreve. E é por isso que o escritor, em nossos tempos, ao contrário dos médicos, advogados, engenheiros, etc., perdeu o seu valor e procura (parece fazê-lo) advertir às pessoas de um mal maior, terrível, mas desconhecido. Os males que as pessoas conhecem, é claro, são as doenças, as guerras, a violência – e estes tantos outros que todos sabem. Para cada um existe um profissional específico para propor as soluções devidas. E o escritor, coitado, insiste em anunciar o seu mal desconhecido e, vejam só, sem solução.

No entanto, procuro um escritor que soube ludibriar a todos – até mesmos os próprios escritores – e falou de coisas pesadas e verossímeis, que diziam respeito à ordem e à orgia humana; não tratava de um mal estar desconhecido, inverídico, tosco, mas, pelo contrário, tocou a real ferida de todos nós e nos fez gemer de dor. E todos nós estávamos certos de que o que havia sido tratado ali, por aquele escritor, era a  inquestionável vida de todos nós. Foram tempos difíceis, mas de profunda reflexão. Tempos produtivos, todavia marcados por desconstruções de sólidas estruturas que mantínhamos por inúmeras gerações.  Havia novas músicas e todos os meus contemporâneos demonstravam novos semblantes, como se tudo, estranho, fosse começar outra vez, mas de uma maneira muito bruta. Sempre nos lembraremos deste período – pelo menos posso falar de mim.

Eis que um dia este escritor sumiu. Procuro-o. Este que nos fez refletir sobre a função das palavras e nos abriu os olhos novamente. Procuro este escritor que alcançou a síntese de todas as considerações que eu um dia tentei fazer. Afinal, também quero ser escritor. Como ele. Procuro-o, pois quero aprender este dom, esta magia, este ofício de tradução do sentimento humano – cá estou eu, é certo, cometendo o mesmo erro que identifiquei nos escritores. Deslumbro-me. Quero encontrar este escritor para que ele me ensine! E que com ele eu aprenda!  Ao uníssono silencioso da alma, ao azul, ao avante, ao declínio, ao escuro – quero que me ensine.

E eu sei que há algo de belo e atual nestas minhas palavras (eu sei, eu sei), é certo, mas, sim, procuro um escritor que me corrija, que me freie e que me mostre o caminho certo das palavras. Quero compreender o mundo, como  já fizeram um dia.

Wendell 

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