segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Emeth

Tentando descobrir o misterioso, o enigmático, o irrespondível da vida, passei um bom tempo da minha vida nesta situação. A situação que pode ser expressa em muitos dos meus textos, trata-se de uma peculiaridade de todo ser humano: a dúvida. Todos nós, seres humanos, homens e mulheres, nascemos com um mundo dentro de nós; um mundo estranho, que precisa ser descoberto. E esse, talvez, seja o combustível presente na maioria dos seres humanos: a dúvida. Afinal, no decorrer da vida são as dúvidas, as perguntas, que gera em nós algo que nos move por uma busca. Uma busca finita – que, às vezes, nos dá a sensação de se mostrar infinita.

Quando criança, as buscas, monitoradas pelos pais, são ínfimas e infinitas e imensas. É do mais simples toque na tomada que se percebe a dor: uma lição para a vida toda. É olhando o comportamento dos pais que nós, crianças, percebemos o que é o ser humano. Percebendo, talvez, o animal de estimação notamos alegremente como é querer bem algo ou alguém. E quando esse animal, porventura, morre... nos deparamos com o peso da morte. Talvez algumas respostas não eram fruto da dúvida e, consequentemente da busca; mas vinham espontaneamente, em forma de simples e novas descobertas. Na infância nós pisamos firme no chão, olhos no horizonte do nosso quintal, e decidimos: existe um mundo a ser descoberto.

Na adolescência as descobertas se misturam as dúvidas novamente. É a fase de transição: de tudo. O que era, talvez não faça mais sentido agora. O que foi, pode ser e não ser. O futuro e o passado se juntam num presente incerto, duvidoso. Em meio a uma buliçosa conduta, o adolescente, fragilizado, descobre coisas importantes. Descobre o sexo, a família, o outro. Descobre, sobretudo, algo paradoxal: a dúvida. O que antes representava algo automático, simples, modesto, virginal, a dúvida, agora, ganha um peso incrível. Acrescenta-se a ela um papel extra: atribui-se a ela, agora, não só ser combustível para as descobertas, mas adquire um caráter independente, exterior ao indivíduo; e algo, acima de tudo, iminente. E, caminhando, nessa iminência, nasce o ser adulto.

O ser adulto é o resultado de suas dúvidas: respondidas ou não. Das dúvidas respondidas, ele, com certeza, constrói sua vida. Seus desatinos de adolescente serviram para alguma coisa. Para nortear. O que foi bom segue; o que foi ruim tenta-se abandonar. Suas dúvidas, antes problemas, agora são base para a vida – dali em diante. E vêm os casamentos, o trabalho, a faculdade, e todas as imposições de uma redoma que a Sociedade criou. Das dúvidas não respondidas, há duas possibilidades: 1) o indivíduo continua em sua busca, infinita, na busca de resposta; 2) se vê incapaz e percebe que há coisas da vida que adotam caráter, infelizmente, de não-resposta.

E a vida segue. Até a maior resposta ou a maior dúvida: a morte.

Durante dezoito anos de minha vida, vivi intensamente a busca do que parece ser clichê, assim, escrito: respostas. Hoje percebo que a maior resposta realmente está realmente na dúvida. Aquela dúvida, que nasceu na adolescência, mas que hoje se torna um só fato. A dúvida maior, única e, como disse, independente e iminente. A dúvida, que esteve presente em grande parte dos meus textos, me faz querer entender sobre Deus, sobre o comportamento humano e, acima de tudo, sobre o meu comportamento. A minha vida. Todas as minhas palavras, poéticas, são tentativas de explicação. Muito profundo. Algo que por muito tempo me fez perder a vontade de me relacionar, de ter amigos, namorada, família, colegas, tudo, tudo... Um peso imenso, um fardo, que carreguei de cabeça baixa (imperceptível aos que me rodearam) e que ao longo do trajeto fui transformando em palavras. Incompreendidas ou não, palavras.

Se eu fosse Heráclito de Éfeso, diria que, depois disso tudo, não sou o mesmo. E realmente não sou. Entretanto há algo em mim que busca ser o mesmo. Depois de tudo isso, há algo em mim procurando alguma coisa sobre “essência”, sobre “início”. Há algo em mim me dizendo que dúvida não é mesmo sobre o que eu era ou serei, mas sim do que eu posso ser. Do que eu consigo ser, sobretudo. Hoje, dia 10 de janeiro de 2011, posso ver que a dúvida, antes corrosiva, não se preocupa mais em me incitar. Depois de tantas brutas palavras, imensas palavras, hoje busco algo mais singelo. É minha essência que busco e, não sei quanto à morfologia, mas algo extremamente ESSENCIAL – essencial para caminhar.

Hoje decidi que não posso ser poeta da inocência. Inocência, no meu caso, que reside na busca da perfeição da explicação, incerta, como pretexto das minhas dores, culpando sempre a dúvida. Inocência era isto. Era. Há que ser maduro, no entanto. Ser maduro e descobrir que a dúvida, presente sempre, é uma velha amiga e não devo a ela culpar dos meus delírios de poeta. Maturidade é, enfim, perceber que tudo que é bom, só é bom porque percebeu que era ruim – em algum momento da vida - e voltou à essência.

É isso que quero hoje: a minha essência. Se é duvidosa, ambígua, dúbia, confusa, não me resta saber. Aliás, não me resta saber nada a partir de hoje.

Reitero: quero saber e duvidar apenas do essencial.

E que venha a essência, me fazendo ser quem eu era, se isto for possível.

Por fim, não pretendo distribuir palavras (aparentemente, concordo, muito clichês) num texto, sem ao menos dizer o motivo. E não duvidem: A partir daqui, nasce um novo homem. Um novo homem que serei. Sem mácula, sem frenesi; um ser maduro.

Que é para a vida seguir, buscando sua maior certeza.

2 comentários:

  1. Eu gosto da palavra "buliçosa". Não tenha dúvidas disso. :)

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  2. Ser quem eu era. Eis a dúvida: possivel? Ja nao sei. Penso que nao. O sofrimento e a dúvida vem para abalar estruturas e romper, se possivel, ruir paradigmas.
    O que somos hoje é produto de todo esse processo de duvidar. Na duvida nos fazemos e refazemos continuamente. Deixando para trás o velho que não engloba o novo que se forma.
    Esse processo de interiorização que a duvida nos proporciona, acredito, alimenta e vivifica nosso homem interior. Alargando-o cada vez mais, quebrando-lhe a velha forma, linear e míope de ver o mundo.
    Somos melhores do que antes. Não ha duvida. Talvez menos brilhantes na nossa arrogância natural de nos sentirmos prontos, perfeitos... melhores. Não os mesmos. Mas mais conscientes e sóbrios da nossa bruta condição humana. E é essa absurda condição humana, que faz as escamas dos olhos caírem e nos iguala em mazelas, em fraquezas, em dores...e em GRAÇA.
    Não os mesmos...mas caminhando de nueza em nueza para que a o que seja ESSENCIA(L) nos vele e nos revele...!
    Nao como antes. Nao mais meninos.!

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