segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Velas e vidas

É interessante como certas coisas só são percebidas em “determinados momentos”. E, inclusive, é até engraçado.

Hoje faltou luz o dia todo. Já é noite e o sol já não mais ilumina, deixando a casa totalmente escurecida. Minha mãe arranjou algumas velas e as acendeu; e eu – enfastiado pelo tédio de um dia inteiro -, resolvi pegar uma das velas e fixá-la sobre o chão de taco do meu quarto e tentar escrever alguma coisa. Bem... Não tenho imaginação pra escrever uma história, um conto. Tampouco estou inspirado ao ponto de escrever uma poesia. Na verdade, faltam-me palavras. Além do mais, estou bastante concentrado na vela acesa bem próxima a mim. É uma incrível invenção. Um tubo de cera que, no centro, envolve uma linha grossa, quase um barbante (é estúpido descrever uma coisa tão óbvia, mas continuo no meu encanto). E – para mim – acontecimento mais esplêndido se dá quando o fogo é atiçado a parte externa da linha – a que não está envolvida. Ah! Todo mundo já viu uma vela antes, sabe do que estou falando. Voltando ao fogo: ele não consome de uma só vez a cera; muito menos estilhaça a linha toda. É um processo lento e inteligente. Vagarosamente o fogo consome parte da linha e, na mesma proporção vai derretendo uma parte da cera; revelando nova parte de linha para continuação do processo. Processo simples, processo vagaroso, processo que até saudosismo me trouxe. Acho que é como Renato Russo disse em sua música “Índios”: “Saudade de tudo que eu ainda não vi”. E todo esse processo (visto no escuro, debruçado no chão) me obrigou a fazer uma analogia entre a vela acesa e as nossas vidas. Pois é. Lembrou-me a vida, a minha vida. A vida, que segue vagarosamente. Segue derretendo cera, queimando linha. O processo também é vagaroso, mas não para, nunca para. E à medida que o fogo vai movimentando nosso processo-de-viver, muitas vezes nos apegamos às coisas demais, pessoas desnecessárias, sons, imagens... E apegamos demais. Às vezes, nos apegamos tanto, que nos esquecemos da nossa própria individualidade, no nosso próprio fogo, da nossa própria linha, nossa própria vida. Começamos a nos nortear, baseados no fogo das outras coisas, nos esquecendo que viver é a coisa mais pessoal que existe. Porque nossas vidas são feitas de escolhas e as escolhas são pessoais. A vida é assim: Cada um com sua própria vela, cada um se permitindo queimar de uma maneira. É isso, simples. Simples e complexo. Viver é assim mesmo: simplesmente complexo. Como uma vela.

Depois dessa reflexão, percebi que a luz elétrica voltou. Não penso mais na vela agora. Acendi a luz. Apaguei a vela sem drama nenhum, assim. E agora estou preocupado. Fico receoso de que quando o fogo acabar com a cera da minha vida, eu perceba que desperdicei boa parte de linha.

Um comentário:

  1. Que lindim esse texto, eu AMO analogias :D
    Se a nossa vida é uma vela, o que faremos depois da energia elétrica ter sido inventada?
    Agora entendo como certas pessoas não vivem, só existem. É que elas apagaram a vela, e nem percebem que a energia eleétrica está ali, pois isso é tão automático :/
    Vamos juntar nossas velinhas e colocar num bolo? *o*

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