domingo, 3 de outubro de 2010

Já estamos em outubro

Amigo, senta aí que agora é hora da verdade.

Em todo tempo evitamos sofrer, amigo, é, eu sei. Mas preciso ser demagogo: Sofrer agora é inevitável. A gente pensa que pode, mas não pode. A gente que pensa que quer, mas queria. A gente pensa que sente e nem sabe nada. Sofrer é necessário. Engrandece. Tornamos-nos grandes, meu amigo. Grande nas idéias, na cabeça algo novo, no coração algo velho.

Percebe a grandiosidade? Percebe essa dimensão? A dimensão do nosso sofrimento.

Estou cansado, meu amigo.

Estou cansado da sociedade. Ela nos diz muito, gostaria que ela ficasse calada. Ela é suja, nos limita, nos faz (não) pensar, ela brilha um brilho obscuro, chora um choro sombrio, faz as pessoas se tornarem ridículos. Pois é isso que nos tornarmos: ridículos. Medíocres, caçoadores de nós mesmos, impunes, rabadashs, conspiradores. Afinal de contas, irmão, hoje nossa luta é contra carne e sangue. Nós combatemos os nossos semelhantes, combatemos o ser humano. Nós suicidamos dia após dia. Pense bem: Dia após dia.

Você vê o constante terror que criamos?

Não dá pra dormir, meu amigo. Não se pode sonhar. A vida é o inquérito sobre nós mesmos. Não é vida, é imposta. É imposto. Sobre comida, bebida, sobre pensamento, sobre ideologias, sobre religião. É imposto para tudo nessa vida e, você já sabe, não se pode sonhar.

Religião, religião, religião, meu amigo: é um caso sério. É um caso sério ser enganado. É um caso sério ver o ser humano dominando a sua autodestruição. E eu fico repetindo “autodestruição”, “autodestruição”, que é para ver se alguém se toca.

Mas ninguém se toca, amigo. Ninguém se toca.

Há uma realidade explícita que eu não quero enxergar. Há uma sociedade bruta que eu não quero cometer. Há uma religião que mata. Há um coração pequeno que quer crescer.
Existe um sofrimento que engrandece. Mas será? Há cores, movimento, palavras.

É um gole de vinagre, com a boca seca, que somos obrigados a beber. É da matéria densa da vida que eu estou falando. É do copo sujo, do banheiro sujo. É tudo isso que você se você não fosse cego, veria, meu amigo.

É o vasto mundo, já dizia Drummond.

Mas eu sei. Eu sei que já estamos em outubro, e de nada adianta mais. Apenas construir o desconstruído e dar alma ao desalmado. Nós somos capazes, meu amigo, nós somos incapazes.

3 comentários:

  1. Ainda bem que eu terminei de ler "O Cavalo e seu menino" e pude entender o 'rabadash' no seu texto^^

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  2. Na sociedade não existe liberdade. Não concordo com nada do que vc disse, Rita, pois penso que a Sociedade exerce forças coercitivas grandíssimas, ao ponto de nos enganar, fazendo com que pensemos que somos "livres", que temos "livre-arbítrio".

    Não há escolha, nós somos seres moldados, não seguimos nossos instintos, não libertamos nossas vontades.

    Como dizia Eddie Vedder, eu acho que a Sociedade é uma raça louca. E quem me dera poder viver longe dela...

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  3. as aulas de sociologia estão fazendo um barulhinho em vc, heim, meu belo rapaz.

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