terça-feira, 18 de agosto de 2009

A banda invisível

Era uma vez uma banda invisível. Ela era composta por alguns componentes, todos invisíveis. Era feita de moças e rapazes invisíveis. Não davam a mínima para o que o resto do mundo poderia pensar deles, afinal ninguém os enxergava. Eles ensaiavam em um lugar que ninguém sabia onde era, apresentavam-se em shows inexistentes, e tinham fãs em todo mundo; fãs que, ao que parece, também eram invisíveis, pois ninguém nunca deu notícia dos mesmos. Seu estilo musical era variado; tocavam de tudo. Dependia da ocasião e humor. E levavam a vida assim, livres, leves, soltos e invisíveis. Mas como tudo muda um dia, eles também resolveram mudar. Houve uma época que decidiram tornar-se visíveis. Nem todos eram simpáticos à idéia, porém de muita pressão dos que eram favor, os outros acabaram cedendo. E se fizeram visíveis. Planejaram uma turnê, montaram um repertório, combinaram as roupas. Venderam ingressos, convidaram celebridades, preparam o local. Tiraram fotos com criancinhas pobres e carentes, levantaram diversas bandeiras ideológicas, rasparam as cabeças. Pintaram o cabelo (depois que os cabelos cresceram), colocaram piercings, foram à Bahia. Freqüentaram torneios esportivos, abriram copas do mundo. Começaram a ir às baladas, festas, e, com isso, tornaram se dependentes do álcool, maconha, cocaína, heroína, LSD, e todas as drogas que você conseguir imaginar. Posaram pra revistas variadas. E fizeram tudo que as pessoas visíveis fazem. Mas foi tudo de mentira, porque, na verdade, ninguém os notou. Nada valia. Ninguém sequer deu importância, aliás, o que é pior: ninguém quis vê-los, mesmo já sendo visíveis. Ninguém pediu autógrafo. Ninguém cantou seus hits. E eles ficaram perplexos. Será que a melhor saída era voltar a ser invisíveis novamente? Pensaram e pensaram. Depois perceberam que não havia mais saída, que nada poderia fazer sentido agora, e desfizeram a banda. Cada um foi para um lado, carregando o peso da visibilidade. Cada um com seu cada qual, cada um com seu próprio umbigo, com suas qualidades e defeitos para quem quiser ver. Vida vazia! Depois de anos do acontecimento dessa história, soube que eles andam se reunindo para um novo projeto. Algum novo som. Não sei muito bem. A verdade é [e eles souberam muito bem desta] que nada pode ser pior que a dor de ser visivelmente invisível.

2 comentários:

  1. Dedehhh! Amei esse texto, na verdade amei todos! *-*
    Sério mesmo, incrível como eles me fazem refletir!
    Seu blog ta mara! =]
    Um bjo e fica com Deus.

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  2. Sabe quando faltam as palavras?
    Então. É isso! R.

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